sexta-feira, janeiro 26, 2007

Calling all Angels... III


Solveig Dommartin (1961-2007) com Bruno Ganz, Nick Cave, entre outros, em "As Asas do Desejo"

Calling all angels... II

Damiel está cansado da sua condição de imortal. Cansado de saber sempre tudo, anseia pelo inesperado, pela surpresa, com uma estranha curiosidade de extraterrestre. Nas suas deambulações por Berlim, encontra Marion, a trapezista-anjo-mulher que instigará ainda mais a sua vontade de ser homem…
"As Asas do Desejo" é uma homenagem de Wim Wenders, cheia de compaixão e esperança, à humanidade e ao indivíduo, a cada um de nós que a compõe.
Mas este não foi o primeiro filme que vi com a Solveig Dommartin. Antes, vi "Até ao Fim do Mundo" ("Until the End of the World"), filme posterior de Wim Wenders (de 1991). Tenho especial carinho por ele, porque foi um dos filme que me despertou a curiosidade para o cinema. Este thriller-road-movie de ficção-científica, passado no ano 1999, conta a história de Sam Farber (William Hurt) que corre o mundo registando imagens com uma máquina especial que permite os cegos verem.
Depois há Claire Tourneur (Solveig) que se vai cruzar, por desígnios do destino, com ele. O filme, que tem também como pano de fundo as incertezas da passagem para um novo milénio, foi rodado em vários locais, incluindo Lisboa, Berlim, Moscovo, Los Angeles, para terminar na Nova Zelândia. Uma referência ainda à magnífica banda-sonora, com música original de Nick Cave (que, já agora, também entra n' "As Asas do Desejo"), K.D. Lang, Talking Heads, Julee Cruise, Lou Reed, R.E.M., Elvis Costello, Depeche Mode, Patti Smith, U2, entre outros.
Tenho pena que o filme ainda não tenha sido editado por cá em DVD.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

"As Asas do Desejo"
(Wim Wenders, 1987)

sábado, janeiro 20, 2007

Calling all angels... I

Soube-se, no passado sábado, que faleceu a actriz Solveig Dommartin, conhecida pelas suas actuações nos filmes de Wim Wenders. Recordo "As Asas do Desejo" ("Der Himmel über Berlin"), um filme magnífico acerca da condição humana. Aqui, Solveig representa uma trapezista de circo que faz o seu número vestida de anjo. Isto passa-se em Berlim, quando ainda era uma cidade dividida pelo muro, pretexto para uma reflexão sobre as memórias históricas (o Holocausto) e sobre a esperança no futuro. No filme, este plano terreno tem ligação directa ao céu, pois lá voam anjos que observam a humanidade. Um deles é Damiel (Bruno Ganz), que de tanto observar a humanidade se apaixona por ela. Apaixona-se por aqueles pequenos prazeres que, na sua condição, não pode usufruir: ver as cores, sentir o frio, o cheiro de um café quente, saborear um cigarro, esfregar as mãos, sentir o calor de um corpo...
Este post já vai longo, continuo no próximo que ainda tenho muito para dizer...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Carnivàle - A Feira da Magia

Entre o bem e o mal em tempestades de areia

Já que se tem falado aqui na Grande Depressão americana, gostaria de sugerir uma série de televisão que descreve essa época e as suas problemáticas de uma forma intensa e original. "A Feira da Magia" ("Carnivàle", de Daniel Knauf) conta a história de um circo ambulante que, durante os anos 30, viaja pela América profunda, onde o desemprego, a pobreza extrema e as fortes tempestades de areias (o chamado Dust Bowl) levaram ao êxodo de milhares de norte-americanos. Este é o ambiente onde se vai desenrolar uma bizarra luta entre as forças do Bem e o do Mal. Com espantosas referências religiosas e históricas, uma estética atraente e cheia de simbolismos e uma complexa teia dramática, "A Feira da Magia" deve ser visto sem interrupções, pois corre-se o sério risco de se perder o fio à meada. Já agora, tem o melhor genérico que já vi numa série televisiva.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Annemarie Schwarzenbach nos EUA II

(Unemployed workers of the coal mines at Scottsrun, West Virginia, 1937)

America’s Iron City, 1937

“Dress inconspicuously. Don’t keep a Leica constantly pressed against your eye. Don’t have your Ford washed too frequently!” Those were the final instructions I was given in Washington before I set out for the coal mining districts of the Alleghenies and the mighty center of the U.S. steel industry, the “Iron City” of Pittsburgh.
I had been prepped like a war correspondent about to depart for the front lines. I had even been warned. The General Motors strike was in full swing. In Washington, I had been able to gain an overview of the aims of the struggle and of the entire American labor movement. I knew that the issue was not pay raises but fundamental demands of enormous import. The slogans “Industrial Union” versus “Craft Union” or “Company Union” were as familiar to me as the concept of “collective bargaining,” recommended by Roosevelt himself as a solution to the problem of strikes but bitterly opposed by the owners of the companies because it would give workers a legal basis and legal representation for their demands. The labor leader John L. Lewis, a Welsh miner, was demanding recognition for his Industrial Unions as representatives of all workers and employees united within an industry. The entrepreneurs feared him more than the entire Communist Party (of which he is not a member)—many already considered him the most powerful man in America.
There was a certain willingness to accommodate the workers by granting them a degree of quasirepresentation within the factory—a manageable arrangement, since the workers’ chosen representatives were company employees and could therefore be fired if necessary. But no one wanted “outside interference” from an independent union leader like John L. Lewis, who was not only powerful but had the effrontery of negotiating on an equal footing with the company bosses and directors. (...)"

(Annemarie Schwarzenbach)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Annemarie Schwarzenbach nos EUA

Em 1937, Annemarie Schwarzenbach, uma autora de que já falámos aqui (ver O Elogio da Tristeza; O Elogio da Tristeza II; Viagem a Kafiristan) viajou até aos Estados Unidos, país que estava na altura em lenta recuperação económica, depois da Grande Depressão, para fazer várias foto-reportagens. Aqui fica um pouco desse trabalho.

(Westfront Street, Knoxville, Tennessee, 1937)


The Dark Side of Knoxville, 1937

"The vision of a better life, the American Dream, becomes more and more clouded as the road leads south. Land, parched by the long summer days, grows rusty in the dry air of poverty which has lasted for seventy years. In the great Tennessee River Valley, the blushing autumn leaves light up the hills and the red earth gushes from deep crevasses where the air and water are hollowed out of the cavities. The forests that once covered and protected the region have now disappeared, the blackened tree trunks and white pebbles are scattered throughout the meager fields that support a little corn, potato, and sugar cane, too little to feed the farmer and his family. The river flows slowly in the direction of the Ohio plains. All along the riverbanks are the traces of destruction caused by the torrential rains: crushed farmhouses, empty window frames, collapsing pillars, uprooted wooden fences, and deserted pastures.
With its one hundred thousand inhabitants, Knoxville is one of the urban centers situated in a region not favored by nature: its people have not succeeded in protecting their lands against the destructive force of the river and therefore have managed to assure themselves of an existence nothing short of miserable. The Tennessee River Valley, with a total population of two and a half million, is becoming one of the most poverty-stricken and most poorly developed regions in America. (...)"

(Annemarie Schwarzenbach)

terça-feira, janeiro 09, 2007

"Aforismos e Afins", de Fernando Pessoa
Edição e prefácio de Richard Zenith
Tradução de Manuela Rocha
(Assírio & Alvim)

Pessoa revisited

Quando ontem me passou pelas mãos, por acaso, o livro "Aforismos e Afins", do Fernando Pessoa, apeteceu-me voltar a escrever no blog; porque li:
O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.