O elogio da tristeza II
MORTE NA PÉRSIA (Annemarie Schwarzenbach, 1936)
Advertência preliminar
Este livro irá trazer poucas alegrias ao leitor. Não proporcionará sequer o consolo e o ânimo que os livros tristes frequentemente inspiram, contrariando assim a opinião generalizada de que os sofrimentos, suportados devidamente, reconfortam pela força moral que lhes está implícita. Diz-se, inclusivamente, que a própria morte pode ser edificante. Mas tenho de confessar que me falta fé para acreditar nisso, pois como se há-de ignorar o sabor amargo que nos deixa? Demasiado ininteligível, demasiado desumano é o seu poder… E só o deixa de ser se a aguardarmos como o único e irrevogável caminho que nos é concedido para abandonarmos as nossas errâncias.
Na verdade, este livro trata de errâncias e o seu tema é a ausência da esperança. Apesar de um escritor não ter outro propósito senão despertar o interesse dos seus leitores, neste caso esse mesmo propósito será inalcançável: pois só podemos esperar compaixão e compreensão se os nossos fracassos forem explicáveis, as nossas derrotas resultantes de uma luta valorosa e o nosso sofrimento consequência de tais causas racionais. Se bem que nalguns momentos somos felizes sem razão, não devemos, sob nenhum pretexto, ser infelizes sem razão. E nos duros tempos que correm, cada um deveria poder eleger facilmente um inimigo e um destino à medida das suas forças. A protagonista deste pequeno livro, contudo, é tão pouco protagonista que nem sequer consegue nomear o seu inimigo; e é tão débil que, ao que parece, rende-se antes da sua derrota sem glória estar concluída.
Mas isso não é o pior. Menos ainda perdoará o leitor que em nenhuma parte se mencionem de forma inequívoca os motivos pelos quais um ser humano se deixa arrastar até à Pérsia, país distante e exótico, para lá sucumbir a tentações inomináveis.
Advertência preliminar
Este livro irá trazer poucas alegrias ao leitor. Não proporcionará sequer o consolo e o ânimo que os livros tristes frequentemente inspiram, contrariando assim a opinião generalizada de que os sofrimentos, suportados devidamente, reconfortam pela força moral que lhes está implícita. Diz-se, inclusivamente, que a própria morte pode ser edificante. Mas tenho de confessar que me falta fé para acreditar nisso, pois como se há-de ignorar o sabor amargo que nos deixa? Demasiado ininteligível, demasiado desumano é o seu poder… E só o deixa de ser se a aguardarmos como o único e irrevogável caminho que nos é concedido para abandonarmos as nossas errâncias.
Na verdade, este livro trata de errâncias e o seu tema é a ausência da esperança. Apesar de um escritor não ter outro propósito senão despertar o interesse dos seus leitores, neste caso esse mesmo propósito será inalcançável: pois só podemos esperar compaixão e compreensão se os nossos fracassos forem explicáveis, as nossas derrotas resultantes de uma luta valorosa e o nosso sofrimento consequência de tais causas racionais. Se bem que nalguns momentos somos felizes sem razão, não devemos, sob nenhum pretexto, ser infelizes sem razão. E nos duros tempos que correm, cada um deveria poder eleger facilmente um inimigo e um destino à medida das suas forças. A protagonista deste pequeno livro, contudo, é tão pouco protagonista que nem sequer consegue nomear o seu inimigo; e é tão débil que, ao que parece, rende-se antes da sua derrota sem glória estar concluída.
Mas isso não é o pior. Menos ainda perdoará o leitor que em nenhuma parte se mencionem de forma inequívoca os motivos pelos quais um ser humano se deixa arrastar até à Pérsia, país distante e exótico, para lá sucumbir a tentações inomináveis.
1 Comments:
Obrigada e bem vindo.
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