quarta-feira, abril 25, 2007

Ainda Abril

Chico Buarque e a Revolução dos Cravos



Tanto Mar (versão 1 - homenagem à Revolução)

Sei que estás em festa, pá

Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente alguma flor
No teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera pá
Cá estou doente
Manda urgentemente algum cheirinho
De alecrim



Tanto Mar (versão 2 - pós-25 de Novembro)

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim

25 de Abril

A minha banda sonora:
"E Depois do Adeus" (Paulo de Carvalho; José Niza; José Calvário)
Quis saber quem sou/O que faço aqui/ Quem me abandonou/ De quem me esqueci/ Perguntei por mim/ Quis saber de nós/ Mas o mar/ Não me traz/ Tua voz.// Em silêncio, amor/ Em tristeza e fim/ Eu te sinto, em flor/ Eu te sofro, em mim/ Eu te lembro, assim/ Partir é morrer/ Como amar/ É ganhar/ E perder// Tu vieste em flor/ Eu te desfolhei/ Tu te deste em amor/ Eu nada te dei/ Em teu corpo, amor/ Eu adormeci/ Morri nele/ E ao morrer/ Renasci// E depois do amor/ E depois de nós/ O dizer adeus/ O ficarmos sós/ Teu lugar a mais/ Tua ausência em mim/ Tua paz/ Que perdi/ Minha dor que aprendi/ De novo vieste em flor/ Te desfolhei.../ E depois do amor/ E depois de nós/ O adeus/ O ficarmos sós
"Grândola Vila Morena" (Zeca Afonso)
Grândola vila morena/ Terra da fraternidade/ O povo é quem mais ordena/ Dentro de ti ó cidade // Em cada esquina um amigo/ Em cada rosto igualdade/ Grândola vila morena/ Terra da fraternidade
"Liberdade" (Sérgio Godinho)
Viemos com o peso do passado e da semente/ Esperar tantos anos torna tudo mais urgente/ e a sede de uma espera só se estanca na torrente/ e a sede de uma espera só se estanca na torrente/ Vivemos tantos anos a falar pela calada/ Só se pode querer tudo quando não se teve nada/ Só quer a vida cheia quem teve a vida parada/ Só quer a vida cheia quem teve a vida parada/ Só há liberdade a sério quando houver/ A paz, o pão habitação saúde, educação/ Só há liberdade a sério quando houver/ Liberdade de mudar e decidir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir/ quando pertencer ao povo o que o povo produzir
"Estrela da Tarde" (Ary dos Santos)
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia/ Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia/ Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia/ Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia/ Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia/ E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria/ Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia/ Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia/ Meu amor, meu amor/ Minha estrela da tarde/ Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde/ Meu amor, meu amorEu não tenho a certeza/ Se tu és a alegria ou se és a tristeza/ Meu amor, meu amor/ Eu não tenho a certeza/ Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram/ Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram/ Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram/ E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram/ Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram/ Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam/ Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram/ E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram/ Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto/ É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto/ Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto/ Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto/ Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
"Tourada" (Ary dos Santos)
Não importa sol ou sombra/ camarotes ou barreiras/ toureamos ombro a ombro/ as feras./ Ninguém nos leva ao engano/ toureamos mano a mano/ só nos podem causar dano/ espera. Entram guizos chocas e capotes/ e mantilhas pretas/ entram espadas chifres e derrotes/ e alguns poetas/ entram bravos cravos e dichotes/ porque tudo o mais/ são tretas./ Entram vacas depois dos forcados/ que não pegam nada./ Soam brados e olés dos nabos/ que não pagam nada e só ficam os peões de brega/ cuja profissão/ não pega./ Com bandarilhas de esperança/ afugentamos a fera/ estamos na praça/ da Primavera./ Nós vamos pegar o mundo/ pelos cornos da desgraça/ e fazermos da tristeza/ graça./ Entram velhas doidas e turistas /entram excursões entram benefícios e cronistas/ entram aldrabões/ entram marialvas e coristas/ entram galifões
de crista./ Entram cavaleiros à garupa/ do seu heroísmo/ entra aquela música maluca/ do passodoblismo/ entra a aficionada e a caduca/ mais o snobismo/ e cismo... / Entram empresários moralistas /entram frustrações/ entram antiquários e fadistas/ e contradições/ e entra muito dólar muita gente/ que dá lucro as milhões./ E diz o inteligente/ que acabaram asa canções
"Festa da Vida" (Carlos Mendes; José Calvário; José Niza)
Que venha o sol o vinho e as flores/ Marés, canções de todas as cores/ Guerras esquecidas por amores;/ Que venham já trazendo abraços/ Vistam sorrisos de palhaços/ Esqueçam tristezas e cansaços;/ Que tragam todos os festejos/ E ninguém se esqueça de beijos/ Que tragam pendas de alegria/ E a festa dure até ser dia;/ Que não se privem nas despesas/ Afastem todas as tristezas/ Pão vinho e rosas sobre as mesas;/ Que tragam cobertores ou mantas/ E o vinho escorra p'las gargantas/ E a festa dure até às tantas;/ Que venham todos de vontade/ Sem se lembrarem de saudade/ Venham os novos e os velhos/ Mas que nenhum me dê conselhos!/ Que venham todos de vontade/ Sem se lembrarem de saudade/ Venham os novos e os velhos/ Mas que nenhum me dê conselhos!

terça-feira, abril 24, 2007

24 de Abril

Duas sugestões para esta véspera de 25 de Abril:
1 - Apresentação do livro O Bairro dos Poetas, de Fátima Pombo, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca (Matosinhos), às 17h30.
2 - Encontro e debate sobre a Guerra Colonial com o escritor António S. Viana e César Mexia de Almeida, no Jornal Universitário do Porto, às 21h30.

segunda-feira, abril 23, 2007

Ainda a propósito do "maravilhoso"...

Aqui há uns tempos, apercebi-me que uma das mais conhecidas baladas dos anos 70 é inspirada em Rachmaninoff. A muitíssimo conhecida "All by myself", cantada originalmente, em 1975, por Eric Carmen, remete para a melodia do segundo andamento do 2º concerto para piano do compositor russo. Fica aqui o vídeo:

domingo, abril 22, 2007

Maravilhoso Rachmaninoff...

Impossível descrever o concerto de ontem à noite no CCB. A Orquestra Filarmónica Eslováquia e o jovem pianista ucraniano Alexander Gavrylyuk estiveram brilhantes na interpretação do Concerto para Piano nº 2 de Rachmaninoff, uma das mais comoventes peças da história da música. Aqui fica, na interpretação da Skidmore College Orchestra.

I. Moderato
II. Adagio sostenuto
III. Allegro scherzando

sábado, abril 21, 2007

Era um pastel de Belém e uma sonata de Scarlatti, s.f.f.

Este é o fim de semana dos Dias da Música no CCB. A minha ementa pessoal, para hoje, são as sonatas de Domenico Scarlatti, interpretadas pelo cravista Nicolau de Figueiredo, e o concerto para piano e orquestra nº 2 de Rachmaninoff, por Alexander Gavrylyuk e a Orquestra Filarmónica da Eslováquia.

Aqui fica um cheirinho de Scarlatti, em piano:
Sonata K141 em ré menor - Allegro (4'12")
Sonata K132 in do maggiore - Cantabile (7'33")

sexta-feira, abril 13, 2007

Até estou com medo...

...do que pode sair daqui...

INLAND EMPIRE, David Lynch

quinta-feira, abril 12, 2007

"Sempre dependi da bondade de estranhos", Tennessee Williams

É com esta epígrafe de Tennessee Williams, retirada do seu clássico "Um Eléctrico Chamado Desejo", que Fátima Pombo inicia o último livro da trilogia começada com "O Desenhador" e seguida de "As Cordas". Num "post" posterior falarei mais longamente sobre este romance: "O Bairro dos Poetas".
Deixo aqui um pequeno excerto:
Tive a tua carta pousada na minha secretária e fiquei a olhar para ela. Não queria abri-la. Que bom aguardar as palavras. A intriga que suscita a espera. Li o remetente várias vezes só para ler o teu nome. Li o meu nome no destinatário e dissequei o desenho de cada letra, de cada letra tua para imaginar o gesto da tua mão a desenhar cada letra.