sexta-feira, outubro 12, 2007

José Bação Leal...

Desculpem, mas agora vão ter de levar com isto até ao dia da estreia...

(...) O meu destino de homem, talvez de pária, não deve comportar desejos etéreos. Assim, resta-me converter a dor ao credo das palavras. É, de facto, demasiado doloroso não ter um pedaço de amanhã guardado para uma alegria, é mesmo quase humilhante de tão cruel. Mas parece que convém continuar. Ou pelo menos fingir que a angústia não é connosco. "Tudo menos a piedade..." (diria o Álvaro de Campos). E diria certo. Mas, às vezes, o coração contorce-se e é necessário sangrar. (...) Acontece-me sempre isto quando tento projectar-me num espaço ou num tempo. Qualquer dia, de tão irreal, talvez acorde homem. Talvez me cresçam certezas na boca... (...).

ao José Mário
22 Jan. 63
Lisboa
(in "Poesias e Cartas", 1971)