Mário Cesariny: Autografia
Vi há algum tempo o documentário "Autografia", de Miguel Gonçalves Mendes, sobre Mário Cesariny. O filme impressionou-me. O realizador consegue aproximar-se do poeta de uma forma extraordinária. Fá-lo falar da arte, do amor, do sexo.
Pergunta-lhe por que deixou de escrever. Ele responde: "Escrever porquê, para quem?". Todos os amigos morreram. "E eu estou para aqui, mas eu sou um fantasma, sabes? Já sou um fantasma de mim mesmo, julgas que eu leio os meus poemas? Nunca!"
Pergunta-lhe se encontrou o amor da sua vida. "Acho que encontrei. (...) Tenho um problema, eu tenho um poema dele, que ele me mandava na tal carta que a Pide apanhou e que é um belo poema de amor por mim!... E eu não sei o que hei-de fazer daquilo. A última vez que falámos - nunca mais nos vimos - eu disse: 'Eu tenho aquele poema e não to dou, porque sei que o rasgas. Mas eu não o rasgo e tenho aquilo lá em casa. E ou publico ou não publico. Se não publico, aquilo está lá e alguém publicará, suponho. O que é que tu achas disto?'. E ele não disse nem sim nem não. Não disse nada. E agora?".
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(Excerto de "Verso de Autografia", a partir das entrevistas para o documentário)
4 Comments:
parece tão fácil assim guardar um amor. como quem guarda um poema num bolso.
Haja ao menos um poema no bolso para guardar.
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Mário Cesariny
E um Amor também....
dj duck listens Hong Kong Garden
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