13 ISOLATIONS - Entrevista a Priscila Fernandes
Depois de 15 dias a viver em condições muito pouco dignas, os seis artistas da residência 13 Isolations, organizada pela Episodes, foram socorridos pela Câmara Municipal de Hoorn. Têm agora alojamento gratuito e podem continuar a utilizar a prisão como atelier. Aqui fica a prometida entrevista, realizada via correio electrónico, com a artista portuguesa Priscila Fernandes, participante nesta residência.
TEMPUS FUGIT - Quais as condições que vos propuseram e quais as que encontraram?
PRISCILA FERNANDES - EPISODES pretendia criar um evento artístico único onde 13 artistas estariam isolados durante 29 dias na antiga prisão de Oostereiland, Hoorn, sem qualquer contacto com o mundo exterior. O projecto, intitulado 13 ISOLATIONS, resultaria como uma pesquisa experimental onde os artistas actuariam como metáforas para levantar a consciência para questões sociais relacionadas com os direitos humanos. Sendo assim, foram convidados 13 artistas de vários países para estarem confinados em isolamento durante um mês, fornecidos unicamente com materiais de arte, três refeições por dia, água, camas, mesas e cadeiras... A organização compremeteu-se, também, a filmar as celas dos artistas durante oito horas por dia, de forma a divulgar o evento através do website do projecto. Foi também proposto pocket money e um artist fee. Quando cá chegámos, deparamo-nos com uma situação muito diferente. Nada do que foi proposto existia. Até hoje não temos água, chuveiros ou camas, a comida é escassa, não recebemos os materiais que pedimos, as câmaras de filmar só chegaram há dois dias, não há qualquer pocket money e pouca esperança em conseguir o artist fee. A desorganização era tal que nem chaves havia para entrar em algumas das celas ou permissão legal para ocupar esta prisão. Pior do que isso foi a omissão de todas estas deficiências por parte da organização e a falta de transparência. Fizeram-nos acreditar, mesmo quando já estávamos na prisão, que a situação estava sobre controle. Chegámos a acreditar nessas palavras, daí termos aceite ficar um dia em completo isolamento, mas como não tínhamos comida nem água tivemos de abandonar as celas.
TF - Que tipo de relação tens com os teus colegas? Falam sobre os problemas?
PF - Rapidamente estabelecemos relações muito fortes entre nós, e como tal partilhamos os nossos desabafos constantemente uns com os outros. Até mesmo os artistas que já abandonaram o projecto continuam em contacto.
TF - Logo na primeira semana desistiram sete. Porque é que os outros seis, incluindo tu, ficaram?
PF - Não posso responder por todos os artistas, embora esteja consciente que a opinião seja partilhada pela maioria. A razão pela qual fui ficando por aqui foi essencialmente por questões profissionais. Sinto que fui prejudicada vezes de mais, e queria sair daqui com alguma coisa, com alguma obra concluída, sentir que, de alguma forma, este projecto tinha sido produtivo. No entanto, o facto de ter decidido ficar não significa que tenha aceitado as condições propostas por EPISODES.
PF - Não posso responder por todos os artistas, embora esteja consciente que a opinião seja partilhada pela maioria. A razão pela qual fui ficando por aqui foi essencialmente por questões profissionais. Sinto que fui prejudicada vezes de mais, e queria sair daqui com alguma coisa, com alguma obra concluída, sentir que, de alguma forma, este projecto tinha sido produtivo. No entanto, o facto de ter decidido ficar não significa que tenha aceitado as condições propostas por EPISODES.
TF - Na página da internet do acontecimento, os organizadores pedem donativos. O que sabes acerca disso?
PF - Já nos interrogamos sobre isso. A única coisa que ouvi é que esses donativos são para o desenvolvimento do projecto... não sei se é verdade ou não.
TF - Contaste-me que estás a filmar tudo. Qual a reacção dos organizadores quando se aperceberam disso?
PF - Penso que nos primeiros dias, EPISODES simplesmente ignorou a presença da minha câmara. No entanto, quando os artistas se começaram a revoltar com o marasmo que envolvia a organização, a minha câmara começou a provocar desconforto. À medida que o tempo foi passando e a situação se foi degradando, o meu filme começou a ser um grande problema para a organização. Cheguei a receber uma visita da polícia que solicitou que entregasse a minha câmara a EPISODES. Obviamente que não entreguei nada, mas apercebi-me da arma que tinha entre as mãos e quanto isto assustava a organização.
TF - Sem querer acusar ninguém de nada, na tua opinião, isso parece-te uma fraude organizada ou apenas uma grande irresponsabilidade?
PF - Parece-me ser uma grave falta de responsabilidade e falta de profissionalismo! EPISODES falhou em todos os pontos... É simplesmente graças aos artistas, à Câmara Municipal de Hoorn e às várias galerias e residências que nos têm vindo a apoiar, que temos conseguido fazer alguma coisa por este projecto.
TF - O que pretendes fazer com as filmagens que estás a captar?
PF - Pretendo utilizar estas filmagens para um documentário sobre a experiência que temos vivido. Até ao momento, fui convidada a exibir este trabalho na próxima exposição da galeria MariaKapel, en Hoorn, em Setembro. Por enquanto ainda estou a editar e a captar imagens, mas acredito ter bom material comigo.