aguasfurtadas 10
"aguasfurtadas 10" já está lançada. Deixo aqui dois dos meus autores favoritos deste número.
Angélica Freitas, uma poeta brasileira que acaba de editar o seu primeiro livro no Brasil, edita também pela primeira vez em Portugal. Diz-se no texto de introdução, escrito por Ricardo Domeneck: "O trabalho de Angélica Freitas movimenta-se num clima no qual separações entre vida e obra, alta cultura e cultura pop, simplesmente não fazem sentido, não a preocupam. (...) Surgindo em um contexto poético brasileiro com parâmetros críticos engessados e operantes há cinco décadas, seus poemas instauram um caminho novo de relação com uma tradição não-autoritária."
Love me
Você num bar de hotel de quinta
em paris ouvindo polnareff com
um daiquiri na mão
na mesa uma gérbera dá o último
suspiro, as cortinas de veludo
já eram, o garçom
chama a sua atenção. você
perdida je suis fou de vous,
ele traz outro drinque e
sorri, você pensa aqui
não é cancun
e se pergunta quanto
tempo dura um garçom.
cinco euros, ele então
acende um gitane que você
vai fumar distraída, com a
classe estudada
de 500 holly golightlies.
O outro é o galês Gez Walsh, pela primeira vez editado em Portugal e traduzido por Hélder Moura Pereira. A sua poesia baseia-se no universo da infância, na sua maldade ingénua. Fica aqui "Posso ir à casa de banho", que me lembra alguns episódios constrangedores que vivi na minha infância...
- Por favor, professora, posso ir à casa de banho?
- Não, devias ter ido no intervalo.
- Por favor, professora, posso ir à casa de banho?
- Não, faz lá as tuas contas.
- Por favor, professora, posso ir à casa de banho?
- Não, para a próxima não bebas tantos líquidos.
- Por favor, professora, POSSO IR À CASA DE BANHO?
- Não, tens de aprender a controlar-te.
- Por favor, professora, eu, oh, posso ir mudar de calças?